domingo, 25 de outubro de 2009

Sonda revela detalhes inéditos da atmosfera de Vênus

Cientistas da Agência Espacial Européia (ESA) analisaram os primeiros dados enviados pela sonda Venus Express, que orbita o planeta Vênus desde 11 de abril deste ano.
É a primeira missão espacial lançada em mais de 20 anos exclusivamente dedicada ao segundo planeta mais próximo do Sol. “Nunca Vênus foi vista com tanto detalhe," afirma Håkan Svedhem, cientista do projeto.
Visto no céu como a Estrela D'alva, Vênus têm praticamente o mesmo tamanho da Terra. Sua densa atmosfera brilhante é composta de 96% de dióxido de carbono, enquanto na Terra a concetração desse gás não passa de 1%. Isso produz um efeito estufa infernal, mantendo uma temperatura média de 465oC na superfície do planeta.
As imagens da Venus Express em luz visível, infravermelha e ultravioleta mostram detalhes inéditos da atmosfera de Vênus. O que mais chama a atenção é um misterioso redemoinho de nuvens em cima do pólo Sul que, diferente do redemoinho no pólo Sul da Terra, possui dois centros, em vez de um.
Svedhem conta que "os estudos já começaram a se aprofundar nas propriedades dos campos de vento complexos de Vênus, para entender a dinâmica atmosférica em escalas local e global."Órbita memorável
Em 11 de abril, a sonda foi capturada pela atração gravitacional de Vênus e deu sua primeira volta em torno do planeta, a chamada órbita de captura, que é excelente para observar o planeta como um todo.
A órbita de captura é a mais alongada de todas. A sonda fica de 350 mil a 400 km de distância da superfície de Vênus, enquanto, nas órbitas seguintes, as distâncias são menores. O panorama visto na órbita de captura ajudará os cientistas a analisarem as imagens que a sonda registrou depois nas órbitas seguintes, mais de perto.
As imagens foram registradas pelo instrumento VIRTIS, em seis sessões de observação, dos dias 12 a 19 de abril, entre 210 mil e 190 mil km de distância. O que o VIRTIS viu
VIRTIS é o espectrômetro da Venus Express. O aparelho mede a intensidade da luz emitida por Vênus nas faixas de comprimento de onda do infravermelho próximo ao visível, do visível e do ultravioleta. As medidas permitem produzir imagens que mostram a forma e o movimento das nuvens e, ao mesmo tempo, determinar a composição química delas.
O vídeo abaixo é uma seqüência das imagens registradas nas sessões de observação. O lado do planeta voltado para o Sol aparece em amarelo. No centro está o pólo Sul de Vênus. Girando em torno do pólo, as duas manchas vermelhas foram interpretadas pelos pesquisadores como os centros de um redemoinho duplo.
Missões anteriores a Vênus, as norte-americanas Mariner 10 (1974) e Pioneer Venus (1978-1992), avistaram apenas indícios dessa estrutura no pólo Sul. O pólo Norte, o único estudado com detalhes por americanos e soviéticos, tem também um vórtice duplo.
Svedhem explica que o redemoinho deve ser formado pela circulação do ar, à medida que ele esquenta e esfria, combinada com os ventos da alta atmosfera, de 360 km/h. Estes dão a volta ao planeta a cada 4 dias, a chamada super-rotação.
Ele diz que "ainda sabemos muito pouco sobre os mecanismos pelos quais a super-rotação e os vórtices estão ligados. Também não somos capazes de explicar porque a circulação atmosférica global forma um vórtice duplo nos pólos."
A situação é extremamente diferente da Terra, segundo Shige Toshi, do Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet) da UNESP. "A velocidade típica de nossos ventos é dez vezes menor. Ventos de 300 km/h só acontecem em furacões."
Toshi acha muito estranha a estrutura de vórtice com dois centros. "É uma estrutura muito instável, nada parecido com isso poderia durar por muito tempo na atmosfera da Terra." Janelas no infravermelho
A missão conseguiu resgistrar detalhes de estruturas abaixo de 60 km de altidude, enxergando através de brechas na camada espessa de nuvens de Vênus.
As brechas são chamadas de janelas no infravermelho porque só podem ser vistas em faixas estreitas de compormento de onda infravermelho. As janelas no infravermelho foram descobertas por acaso por astrônomos nos anos 1980.
Outro mistério é a presença de monóxido de carbono (CO) na baixa atmosfera. Os pesquisadores esperavam encontrar CO apenas na alta atmosfera, onde a radiação vinda do Sol quebra as moléculas de gás carbônico (CO2), em uma reação química que resulta em gás oxigênio (O2) e monóxido de carbono.
Desde 7 de maio, a Venus Express circula o planeta em sua órbita mais baixa, entre 66 mil e 250 km de Vênus. Os cientistas analizam agora novos dados que acabaram de chegar e que mostram o que parecem ser mais características inéditas.

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