sábado, 24 de outubro de 2009

Exploradores da Radiação Cósmica ganham Nobel 2006

Os norte-americanos John Mather e George Smoot dividiram o Prêmio Nobel de Física de 2006, divulgado semana passada. Foi um reconhecimento ao trabalho deles durante a missão espacial COBE, da Agência Espacial Norte-americana (Nasa), lançada em 1989.
O satélite Explorador do Fundo Cósmico (COBE, em inglês) mapeou pela primeira vez a radiação infravermelha e microondas de todo o céu. Foi um marco para a cosmologia, a ciência que estuda a origem e a evolução do universo.
O COBE forneceu pela primeira vez os dados de que os cosmólogos precisavam para verificar se o universo surgiu em um estado extremamente quente e denso que se expandiu, formando as estruturas de galáxias, estrelas e planetas.
A teoria do big bang previa que o universo, no início, quando os primeiros átomos se formaram, era preenchido de radiação como uma câmara incandescente a uma temperatura de milhares de graus kelvin. Resquícios dessa radiação foram descobertos por acaso, em 1965, por Arno Penzias e Robert Wilson, ambos prêmios Nobel de 1978. Mapa Cósmico
O perfil dessa radiação foi confirmado pela equipe liderada por Mather. Hoje, o universo é frio, com uma temperatura média de 2,7 graus kelvin, quase uniforme em todas as direções. A coincidência entre as medidas e o esperado pelos cálculos é considerada uma das mais incríveis de toda a ciência.
Os cosmólogos, entretanto, esperavam encontrar sutis variações ao longo do céu, as chamadas anisotropias na temperatura da radiação cósmica de fundo. Isso porque, na nuvem de gás quente primordial que liberou a radiação, deveria haver regiões mais densas que outras. Com a expansão do universo, elas se tornariam os núcleos de formação das primeiras estrelas e galáxias.
Smoot liderou a equipe que usou o COBE para criar o primeiro mapa das variações de temperatura da radiação cósmica de fundo. Ele contou ao site oficial da Fundação Nobel que a previsão era de que elas deviam existir no nível de uma parte em dez mil. Se não estivessem ali, a teoria do big bang teria que ser substituída por outra.
Eles precisaram distingüir a radiação primordial das grandes fontes de interferência do sistema solar e da nossa galáxia, a Via Láctea, além de levar em conta o movimento da Terra em volta do Sol, do Sol em volta da Via Láctea e da Via Láctea no aglomerado local de galáxias.
Smoot chegou a prometer uma passagem de avião para qualquer lugar do mundo para quem encontrasse um erro na análise dos dados. "Foi para que os membros da minha equipe, em vez de sairem falando que tinham feito uma descoberta, realmente examinassem os dados com cuidado e tivessem certeza de que não havia nenhum erro. Uma parte em dez mil é uma coisa muito pequena — qualquer engano pode causar esse efeito".
Em 1992, o mapa das anisotropias estava na primeira página de todos os jornais que anunciavam a confirmação do big bang.
A partir das anisotropias os cosmólogos podem deduzir a idade do universo e a sua densidade de energia.
Novas missões
O sucessor do COBE é o WMAP, sigla em inglês para Sonda Wilkinson da Anisotropia de Microondas. O nome da sonda da Nasa, operando desde 2001, é uma homenagem a David Wilkinson. Morto em 2002, ele foi figura-chave na construção do COBE. Muitos acreditam que, se estivese vivo, Wilkinson dividiria o Nobel deste ano com Mather e Smoot.
O WMAP, que explora as anisotropias com uma resolução superior a do COBE, deve logo ser ultrapassado pela sonda Planck, da Agência Espacial Européia (ESA), com lançamento previsto para 2008.
Atualmente, Smoot trabalha no Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, EUA, e faz parte da equipe do Planck. Mather é pesquisador do Centro de Vôo Espacial NASA/Goddard, onde coordena o projeto do novo telescópio espacial da Nasa, o James Webb, que deve substituir o Hubble em 2013.

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