sábado, 24 de outubro de 2009

Grande Nuvem de Magalhães em polvorosa

A equipe do telescópio espacial Akari, da Agência de Exploração Aeroespacial Japonesa (JAXA), divulgou em 1o de novembro duas imagens da radiação infravermelha emitida pela galáxia Grande Nuvem de Magalhães (GNM), que são as mais detalhadas obtidas até hoje.
Por ser a mais próxima da nossa, a Via Láctea, a apenas 160 mil anos-luz de distância, a GNM é um alvo importante para o estudo do ciclo de vida das estrelas e da história das galáxias.
"Estou impressionada com os insights que esses dados trazem", comenta Elysandra Figueredo, pesquisadora brasileira da Universidade Aberta, Reino Unido, que trabalha no tratamento dos dados do Akari.

Na imagem acima, vê-se, espalhados por toda a GNM, o gás e a poeira aquecidos por estrelas jovens — esferas densas desse material acumulado que começaram a brilhar recentemente. Figueredo nota que "a galáxia está cheia de estrelas recém-nascidas, provavelmente ainda dentro de seus casulos de gás e poeira."
Enquanto a distribuição desse meio interestelar é quase uniforme, as estrelas da GNM tendem a se concentrar em uma região específica (veja a segunda figura abaixo).
Acredita-se que tanto o recente surto de formação das estrelas como a diferença entre a distribuição delas são conseqüências das forças gravitacionais que a Via Láctea exerce em sua vizinha 10 vezes menor.
A segunda imagem mostra uma região em detalhe, em freqüências infravermelhas mais próximas do visível. Além das nuvens interestelares, é possível enxergar estrelas mais velhas. A imagem permite estudar como o material interestelar se transforma em estrelas e depois, quando estas explodem, é devolvido ao espaço.
Glenn White, da Universidade Aberta, diz que "a GNM é rica em uma variedade de formações estelares, incluindo a Nebulosa da Tarântula [onde explodiu, em 1987, a supernova mais próxima já vista por telescópios], o que sugere que ela experimentou períodos de formação estelar antigos e recentes."

Imagens em infravermelho mostram detalhes de objetos cuja luz é fraca demais ou é bloqueada por nuvens de gás e poeira. Elas revelam estruturas que não aparecem em imagens de telescópios óticos.
Motonori Kamiya

Grande Nuvem de Magalhães vista por um telescópio ótico. As áreas correspondendo às imagens do Akari no infravermelho distante e no infravermelho próximo estão demarcadas em vermelho e verde,respectivamente. Embaixo, a região de maior concentração de estrelas.
23 anos depois
A diferença de resolução entre o primeiro dos telescópios infraveremelho e o Akari é evidente nas imagens que ambos instrumentos fizeram da nebulosa IC 4954, a 6 mil anos-luz de distância.

Uma das primeira imagens obtidas pelo Akari demonstra sua sensibilidade. As estrelas recém nascidas ainda dentro de seus casulos e as nuvens que lhes deram origem na nebulosa IC 4954 são claramente visíveis. Ao lado, imagem do IRAS da mesma nebulosa.
"A última varredura completa do céu em infravermelho, feita pelo satélite IRAS [lançado pelo Reino Unido, EUA e Holanda] foi completada em 1983, embora astrônomos se refiram a ela até hoje, diariamente", conta David Clements, do Colégio Imperial de Londres.
Instituições do Japão, do Reino Unido, da Coréia do Sul, da Holanda e a Agência Espacial Européia (ESA) participam da missão Akari, cujo objetivo principal é mapear todas as fontes de infravermelho do céu.
O mapeamento começou em maio e termina em novembro, depois de cobrir 70% da esfera celeste. Não há como varrer o céu inteiro, entre outras razões, pela influência da Lua na órbita do satélite. Vida e morte estelar
A atmosfera da Terra bloqueia grande parte do infravermelho vindo do espaço, além de também emitir muita radiação desse comprimento de onda. Por isso, a astronomia do infravermelho é feita principalmente com satélites.
Muitos corpos celestes são frios demais para irradiar luz ou radiação de comprimentos de onda menores, embora irradiem fortemente em infravermelho.
É justamente em lugares frios e poeirentos que estrelas e planetas começam a se formar. Figueredo diz que "essas regiões se distribuem ao longo do plano da nossa galáxia, onde acontecem os processos físicos envolvidos no nascimento das estrelas, em particular, estrelas com dezenas de massas solares. Elas nascem em nuvens moleculares gigantes e ficam inicialmente envoltas em casulos de nuvens, podendo ser completamente invisíveis."
Outros corpos também se escondem dentros dessas nuvens: estrelas de todas as idades e massas e os núcleos de galáxias ativas. A luz desses objetos é espalhada e absorvida pela poeria que se aquece.
"A luz infravermelha que vemos proveniente das estrelas é, na realidade, a emitida pela poeira ao redor delas", explica Figueredo. "Quanto mais densa for a poeira e menor for a temperatura dela, mais para o final do espectro a estrela vai aparecer. Conforme a estrela se livra de seu casulo, a temperatura aumenta. Assim, ela vai se tornando visível em comprimentos de onda menores. Por isso, quando a estrela se livra de seu casulo, podemos ver sua luz."
Anãs vermelhas — estrelas de até 0,08 massas solares, frias e longevas — e gigantes vermelhas — estrelas maiores com massas entre 0,4 e10 massas solares no fim de suas vidas — também liberam bastante radiação infravermelha.

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