terça-feira, 10 de novembro de 2009

Biomas aquáticos

Características dos lagos, rios e mares.
Lagos, rios e mares constituem os biomas aquáticos. Esses biomas podem ser de água doce ou salgada. Além disso, as águas paradas, como dos lagos e lagoas, são conhecidas como águas lênticas. Já as correntes, como no caso dos rios, são denominadas águas lóticas. Vamos conhecer melhor esses biomas aquáticos.
Ambientes lênticosOs lagos são mais profundos e têm maior área que as lagoas. Vários fatores podem levar à formação dessas águas paradas. Uma lagoa pode se formar quando um canal se enche de água, ou em áreas de antigos cursos d'água, ou ainda, um canal de água pode sair à superfície em uma região de terreno que possua uma depressão. Uma geleira também pode derreter-se e criar uma depressão. Finalmente, o homem pode criar uma região com água parada.Normalmente os lagos e lagoas apresentam três regiões distintas:
uma região junto à margem, onde há grande incidência de luz e chegada de nutrientes da orla. Boa para alimentação e reprodução (zona litoral);
a região correspondente à parte central do lago, a "água aberta" onde chega a luz (zona limnética);
a zona profunda, que se localiza abaixo da zona limnética, onde a luz não chega.As drenagens das áreas circundantes da lagoa trazem matérias orgânicas e nutrientes dissolvidos, permitindo o desenvolvimento de vários grupos de indivíduos produtores como pequenas algas suspensas (fitoplâncton), plantas, algumas algas aderidas às plantas e, no fundo, algas conhecidas como bênticas.Os lagos e lagoas ainda são ocupados por vários tipos de consumidores como anfíbios adultos e suas larvas, crustáceos, larvas de peixes e insetos, pequenas criaturas herbívoras. Também são encontradas bactérias que não utilizam o oxigênio para realizar seu metabolismo (bactérias anaeróbicas), já que na zona profunda a luz é pouco disponível.Pássaros, cágados e grandes predadores vão e vêm dos lagos e lagoas. O nível da água cai e se eleva naturalmente dentro de alguns limites ajudando a manter a diversidade do ecossistema aquático e prevenindo da concentração excessiva de nutrientes.
Ambientes lóticosOs cursos d'água (rios e correntezas), desde a nascente até a foz, apresentam-se de formas muito diferentes. Na região inicial as águas são mais velozes e os leitos pouco profundos. No curso final as águas são mais lentas e os leitos menos profundos.Na parte inicial há grande concentração de algas responsáveis pela fotossíntese e que absorvem os nutrientes provenientes de resíduos como pedaços de madeira, folhas, restos de seres vivos, etc. vindos da terra. As algas são consumidas por microorganismos. Muitos insetos de água doce passam a maior parte de suas vidas como larvas, na água. Alguns peixes que vivem nos rios reproduzem-se no mar (salmonete e enguias). Outros peixes saem do mar para reproduzir-se nos rios (salmão). Existem muitos tipos de cursos de água:
cursos de pântanos, de águas negras, que drenam terras úmidas que recebem principalmente águas de chuva e que em geral têm águas brandas;
cursos montanhosos, com águas turbulentas as quais conseguem formar sedimentos finos. Quando as águas alcançam as terras baixas, sua velocidade diminui e os sedimentos se depositam, inundando regiões e possibilitando o crescimento de plantas de terras úmidas;
rios que drenam áreas de solo argiloso, que tendem a ser turvos e que contribuem com a fertilidade do solo local;
rios de mananciais, os quais recebem grandes quantidades de águas limpas que se infiltram na terra, podendo constituir cursos subterrâneos. Essas águas são claras e permitem a passagem de luz facilitando a realização da fotossíntese;
rios de maré, que correm para o mar e sofrem os efeitos das marés nas regiões mais baixas. Fluem lentamente quando a maré é alta e rapidamente quando a maré é baixa.
Ambientes marinhosPodem ser divididos em:
plataforma continental (recifes de coral e campos de águas marinhas);
costões rochosos;
zona oceânica.
Plataforma continentalA plataforma continental não é tão profunda quanto a zona oceânica. Desde a praia, o declive formado na plataforma continental é de até 200 m. Aqui aparecem muitos tipos de animais que vivem sobre e no fundo arenoso. Nessas regiões, milhares de plantas aquáticas microscópicas, o fitoplâncton, flutuam na água e realizam o processo fotossintético com grande intensidade.Aí aparecem significativas correntes que são, em parte, originadas pelos rios. Uma considerável quantidade de alimento está disponível nas plataformas continentais, permitindo que nela existam peixes, caranguejos, lagostas, mariscos e muitos outros seres vivos. É nessa região que, ao longo da costa (onde as temperaturas ficam acima de 20o C, as ondas e correntes são fortes), se desenvolvem os recifes de corais. Os recifes são formados por uma grande diversidade de plantas e animais que "constroem" uma formação calcária com seus esqueletos. Nos recifes, a fotossíntese é intensa. Há muita diversidade, ou seja, muitos tipos de indivíduos, porém pequenas populações de cada espécie.Vários mariscos, esponjas e algas podem ser encontrados aí. Muitos animais utilizam o coral como fonte de alimento, como o peixe papagaio. Outros pequenos peixes, os pepinos do mar, grandes carnívoros como as moréias, barracudas e pequenos tubarões vivem em suas margens.Também ao longo das costas, agora rochosas, onde as águas são frias e o as ondas são favoráveis, aparecem os campos de algas marinhas, onde a produção fotossintética também é grande. Nessas regiões aparecem muitos animais como peixes, lontras marinhas, moluscos (madrepérolas) e ouriços do mar.
Costões rochososOs costões rochosos localizam-se na zona entre-marés, onde o mar bate em superfícies duras, como rochas. Indivíduos que sobrevivem algum tempo fora da água e algum tempo dentro da água se fixam de alguma forma nessas formações. Esses seres vivos conseguem se utilizar de nutrientes arrastados pela maré. Alguns peixes predadores aparecem, quando a maré está alta.
Mar abertoConhecemos como zona oceânica, ou mar aberto, as massas de água salgadas que rodeiam os continentes a partir da região onde o fundo do mar cai drasticamente. Nas águas profundas, a quantidade de nutrientes varia de um local para o outro, sendo que a luz alcança no máximo 100m de profundidade. A salinidade é relativamente uniforme.As correntes marítimas dirigidas pelos ventos que incidem na água são muito fortes. Em profundidades maiores existe uma contracorrente com águas do fundo, fazendo um intercâmbio de nutrientes nas diferentes regiões oceânicas.A vida na área oceânica é dispersa e diversa. O fitoplâncton e os milhares de minúsculos animais que também flutuam na água (zooplâncton) formam o plâncton, que se move junto com as correntes que falamos anteriormente. Muitos animais maiores, incluindo peixes e mamíferos (como cetáceos), também se movem desde a superfície até o fundo em seu ciclo diário.

Água

Importância e propriedades da água.
A Terra é o único planeta do Sistema Solar onde existe água na forma líquida. Praticamente todas as formas de vida conhecidas dependem da água, o que explica o fato de se encontrarem organismos vivos apenas na Terra.A maior parte da água no planeta está nos oceanos e mares. Só 3% estão nos rios, lagos, nas geleiras e nos glaciares. A água doce encontra-se também debaixo da superfície do solo - é o que se chama lençol freático.Conforme o lugar, formam-se verdadeiros rios subterrâneos. O ser humano faz perfurações profundas em alguns locais para captar água - são os poços artesianos.
Ciclo hidrológico, ou ciclo da águaA água também faz parte do corpo dos seres vivos. Percebemos sua existência em nosso corpo quando transpiramos, urinamos ou choramos, embora nesses casos, ela esteja misturada com outros produtos do nosso metabolismo.A água está sempre se renovando. Existe um ciclo hidrológico, ou ciclo da água. Isso quer dizer que não existe "água nova". A água que se bebe, já foi nuvem (vapor), por exemplo. Essa renovação se repete desde o início da vida na Terra. Assim, a água que abastece os seres vivos hoje, é a mesma que os dinossauros bebiam! Por isso é tão importante evitar a poluição e o desperdício. Caso contrário, a água se esgotará e com ela toda a vida.
Três estados da águaA água pode ser encontrada na natureza em três estados físicos: sólido (gelo), líquido, e gasoso (vapor de água - a nuvem é água em vapor).A água do ambiente (incluindo a que se encontra nos seres vivos) evapora por ação do calor. Quando nossa transpiração seca, por exemplo, a água evapora e passa do estado líquido (gotas de suor) para o gasoso.No vapor de água existem gotinhas minúsculas, tão leves que são carregadas pelo ar. Então, formam-se as nuvens, da água que evapora dos oceanos, mares, lagos e rios. A mudança de temperatura causa um fenômeno chamado condensação (que é quando as inúmeras gotinhas se unem).A água passa do estado gasoso para o líquido, na forma de chuva. Essa, por sua vez, cai de volta no ambiente. A terra absorve essa água que é aproveitada, parte pelas raízes das plantas e parte vai para os lençóis freáticos. Esse ciclo nunca pára.
Propriedades da águaVeja as características fazem da água um recurso único e fundamental na natureza.
Capacidade térmica: quando se aquece um copo de papel com água dentro, pode-se notar que o papel não queima e a temperatura da água aumenta. Isso acontece porque a água é capaz de absorver o calor do papel. Essa propriedade é conhecida como capacidade térmica.Os vegetais, que têm água em sua composição, conseguem absorver a radiação solar (para realizar a fotossíntese) sem se queimarem. A transpiração, tanto nos vegetais quanto nos animais, tem o mesmo efeito: auxilia o resfriamento do corpo, pois a água, quando evapora, absorve uma grande quantidade de calor do meio onde está.Outro exemplo é a água do mar ou mesmo da piscina: quando há uma variação grande de temperatura externa, a temperatura da água quase não se altera. Essa capacidade térmica da água se deve à propriedade do calor específico.
Calor específico: é a quantidade de calor necessária para alterar em 1°C a temperatura. A água possui um elevado calor específico, ou seja, é necessário fornecer ou retirar uma grande quantidade de calor para alterar a sua temperatura.
Solvente universal: a água é capaz de quebrar substâncias como açúcar ou sal, por exemplo, em partes tão pequenas que não conseguimos mais enxergá-las. Essa capacidade de dissolver as substâncias faz a água ser considerada um solvente universal.
Transporte: a água tem a propriedade de transportar líquidos e partículas de substâncias. Essa capacidade de transportar substâncias é vital nos seres vivos, pois o sangue, feito aproximadamente de 60% de água, transporta para diferentes partes do corpo gases (como oxigênio, gás carbônico), hormônios, nutrientes e produtos da excreção.
Tensão superficial: Por causa das características físicas e químicas da água forma-se uma tensão superficial. É uma força capaz de manter a água unida, ou coesa, como se uma capa a cobrisse. Objetos leves, como folhas e alguns insetos, não conseguem romper essa camada. Por essa razão, não afundam, e às vezes nem se molham.Existe até uma espécie de lagarto que corre por cima da água. É que, pelo formato de suas patas, formam-se bolhas na parte inferior, e a tensão superficial não deixa que ele afunde. O detergente, porém, é capaz de romper esta película que se forma na superfície da água, "quebrando" a tensão superficial.

Atmosfera

A composição do ar e os problemas decorrentes da poluição.
O ar atmosférico é formado por uma mistura de vários compostos químicos, principalmente por nitrogênio (fórmula química do gás nitrogênio: N2) e oxigênio (O2). Em menores quantidades é também formado por gás carbônico (CO2), gás metano (CH4), óxido nitroso (N20) e vapor d'água. Por fim, fazem parte dessa mistura, em pequenas quantidades (aproximadamente 1% do total), os gases nobres (hélio, criptônio, xenônio, argônio e neônio), além de micróbios e impurezas.A água e o gás carbônico, presentes no ar, absorvem parte dos raios infravermelhos emitidos pelo sol e são responsáveis pela retenção da energia térmica na atmosfera, juntamente com o gás metano e o óxido nitroso, deixando o planeta aquecido e possibilitando a existência de vida na Terra.
AtmosferaA camada de ar que envolve a Terra é conhecida como atmosfera (atmos = ar; esfera = esfera terrestre). A atmosfera pode ser dividida em cinco camadas: a troposfera, a estratosfera, a mesosfera, a ionosfera e a exosfera.1) A troposfera é a camada mais próxima da crosta terrestre, na qual estão imersos os seres vivos de hábito terrestre. Esta camada tem aproximadamente oitenta por cento do peso atmosférico, ou seja, é onde o ar está mais concentrado. Esse nome, troposfera, significa "esfera turbulenta", pois é ao longo dos seus aproximadamente 12 km de espessura onde ocorrem quase todos os fenômenos meteorológicos.2) Na estratosfera aparece uma grande concentração de ozônio, um composto formado por átomos de oxigênio (fórmula química do ozônio: O3), a conhecida camada de ozônio, que funciona como um filtro para os raios solares. Ela absorve a radiação solar ultravioleta, deixando passar apenas parte deles e protegendo a vida da Terra. A estratosfera tem uma espessura média de aproximadamente 38Km.3) Ao chegarmos na mesosfera passamos por 99% do peso do ar, ou seja, quase todo o ar já ficou para trás. Essa camada tem aproximadamente 50Km de espessura.4) A ionosfera recebe esse nome por possuir uma grande quantidade de íons, átomos eletricamente carregados. Essa camada tem uma espessura de aproximadamente 470Km. O ar da ionosfera é extremamente rarefeito e ainda assim oferece suficiente resistência aos meteoros, que bombardeiam diariamente a Terra, fragmentando-os.5) A exosfera é a camada mais externa da atmosfera. Chega a confundir-se com o espaço cósmico. O ar existente nessa camada é tão rarefeito que os grupamentos atômicos chegam a atravessar distâncias enormes sem se chocarem.
Atividade HumanaCom a Revolução Industrial, que se iniciou no século 18, passamos a utilizar com maior freqüência os combustíveis fósseis, especialmente os derivados do petróleo. Isso aumentou em excesso a emissão de gases poluentes na atmosfera, sem que, a princípio, houvesse preocupação com as conseqüências que poderiam ser provocadas. Na verdade, a própria noção de poluição ainda era desconhecida e só a partir do século 20 os cientistas começaram a se aperceber dos problemas que estavam sendo criados.Por exemplo, por volta de 1970, os cientistas passaram a estudar os efeitos que as emissões de clorofluorcarbonos (CFC, um gás muito usado em geladeiras e em aerossóis) estariam causando à atmosfera do planeta. Descobriu-se que o CFC destruía o ozônio da estratosfera. Em 1982, foi constatada a existência de uma região já muito pobre em ozônio (um "buraco"), quando comparada com outras áreas. Essa região localiza-se no Pólo Sul, sobre a Antártida.Assim, a Terra passou a receber diretamente uma carga excessiva de radiação ultravioleta. Para piorar, outros gases industriais, em especial o gás carbônico (CO2, se acumulavam na atmosfera, impedindo a dispersão do calor emitido pelo Sol e provocando um aumento da temperatura do planeta, denominado "efeito estufa".
Mudanças climáticasDurante esse período, que compreende as quatro últimas décadas, várias mudanças climáticas começaram a ser percebidas e atribuídas ao aquecimento global. Então, passou a existir uma preocupação muito grande de que ocorressem mudanças ainda mais drásticas, caso os seres humanos continuassem a emitir gases industriais em larga escala.Embora alguns cientistas não acreditem no risco do planeta se superaquecer, durante a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1992, os representantes dos países participantes escreveram a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima.Nela, reconhecia-se que as mudanças climáticas eram um problema real, planetário, e que as atividades humanas têm papel fundamental nessas alterações. Sendo assim, é preciso que todos os países se esforcem para diminuir o problema, reduzindo a emissão dos gases que promovem o aquecimento do planeta (efeito estufa).
Protocolo de KyotoPara transformar a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima em propostas objetivas, em 1997, foi criado o Protocolo de Kyoto, que tem por objetivo lutar contra alterações climáticas, através de uma ação internacional de redução de determinados gases que provocam o efeito estufa - dióxido de carbono (CO2); metano (CH4); protóxido de azoto(N2O); hidrofluorcarbonos (HFC); hidrocarbonetos perflorados (PFC); hexafluoreto de enxofre (SF6).O protocolo de Kyoto só entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, quando os países que assinaram, iniciaram o desenvolvimento de projetos para diminuir a taxa de emissão de gases do efeito estufa até 2012. Contudo, nem todos os países aderiram a ele. Os Estados Unidos, um dos principais responsáveis pela emissão de gases se recusa a aderir, devido a questões econômicas.Infelizmente, a questão parece estar se agravando. O ano de 2005, desde o início, tem sido marcado por grandes catástrofes em diversos pontos do planeta: tsunamis, terremotos, furacões, secas e enchentes...

Átomos

Eles são as letras do alfabeto que escreve a natureza.
Entre os séculos 12 a.C e 6 a.C, na Grécia Antiga, os seres humanos procuravam explicar o mundo ao seu redor e as coisas que nele havia recorrendo à mitologia, criando deuses e heróis fantásticos que, em tempos imemoriais, tinham criado tudo o que existia.A partir do século 5 a.C., porém, as explicações mitológicas já não pareciam satisfatórias. Os pensadores ou filósofos desejavam novas explicações para o mundo, que se baseassem em causas naturais.Um desses filósofos, Empédocles (490-430 a.C.), afirmava que tudo o que existia na Terra era composto por quatro elementos ou "raízes eternas": a água, o ar, a terra e o fogo, que se misturavam em diferentes concentrações. Essas misturas se sujeitavam à ação do amor e do ódio, que organizavam e desorganizavam os quatro elementos básicos. Assim, segundo ele, formavam-se todos os componentes do universo.Desse modo, tudo o que se encontrava no estado sólido era classificado como terra, fosse pedra, madeira, metal ou mesmo gelo. Já todos os gases - fumaça, nuvens, neblina - eram considerados como ar. Os líquidos, como o sangue ou o vinho, por exemplo, eram enquadrados na categoria de água. Quanto ao fogo, sua definição era mais difícil de ser feita, embora fossem percebidas suas características, como a luminosidade, o calor e o movimento.De acordo com essa concepção antiga, bastava um elemento mudar de estado físico que já passava a ser considerado outro. Evidentemente, essas idéias estavam longe de chegar a uma explicação clara do que ocorre na realidade. E muitos séculos se passariam até chegarmos ao conhecimento científico de que dispomos hoje. Para isso, foram necessárias muitas descobertas e reflexões.
Os gases e o flogísticoNo século 17 de nossa Era, o belga Van Helmont (1580-1644) descobriu que a fumaça produzida na combustão de sólidos e fluidos era diferente do ar e do vapor d'água. Para essa fumaça ele deu o nome de "gás". Esse cientista, um dos pioneiros da química, também demonstrou a existência de vários tipos de gases.Para tentar explicar o fogo, em 1723, o físico alemão Georg Ernest Stahl (1660-1734) publicou um livro conhecido como "Os Fundamentos da Química", no qual lançava suas idéias sobre o "princípio do fogo", que chamava de "flogístico". Tratava-se, segundo Stahl, de um elemento imponderável e inapreensível, contido em todos os corpos combustíveis, ou seja, que queimam ou pegam fogo.Sua crença era a seguinte: quando entram em combustão, os corpos perdem o flogístico. Por não possuí-lo mais, após a queima, eles perdem a propriedade de combustão. Essas idéias vigoraram desde o final do século 17 até o começo do 18. Foi quando o francês Antoine Lavoisier (1743-1794) conseguiu explicar o que não era explicável pela teoria do flogístico:a) o fato de a queima de um corpo cessar no interior de um recipiente fechado;b) a diminuição de massa que ocorre na queima do papel, porque quase todos os produtos dessa combustão são gases que se dispersam na atmosfera;c) o aumento do peso dos metais após a combustão, pois eles "absorvem" oxigênio e com isso ganham massa.
Os estados físicos da matériaEssa nova compreensão, aprimorada, do processo de combustão permitiu identificar o que chamamos hoje de os três estados físicos da matéria: sólido, líquido e gasoso. Com esse novo conhecimento, foi possível entender que o gelo não era terra - como pensava Empédocles, lembra? - mas água no estado sólido. Assim também, a fumaça que saía da água durante a fervura era a mesma água, só que no estado gasoso.Aos poucos, os pesquisadores foram percebendo que era possível extrair alguns materiais de outros, embora houvesse também materiais dos quais não se podia extrair mais nada. Por exemplo, pode-se extrair carvão da madeira ou até da carne, mas é impossível extrair carne ou madeira do carvão, do qual não se extrai mais nada.Através de vários experimentos com a água, Lavoisier percebeu que ela se dividia em dois elementos, o oxigênio e o hidrogênio. Com esse e muitos outros experimentos, ele conseguiu listar 33 dos elementos químicos que conhecemos hoje.Elementos químicos são conjuntos de átomos de mesma característica. Quando se agrupam, os átomos desses elementos formam as substâncias químicas. O exemplo é a própria água, que é uma substância formada por dois átomos do elemento hidrogênio e um do oxigênio (H2O).
Letras do alfabetoDepois de Lavoisier, novos elementos químicos foram sendo descobertos. No século 19, já eram conhecidos cerca de 60. Atualmente, são conhecidos 116 elementos químicos, sendo 90 naturais e os restantes produzidos em laboratório pelo ser humano. Mas o que explica a existência dessa variedade tão grande de substâncias ou materiais no mundo? A resposta, na verdade, é bem simples.Vamos fazer uma comparação... Quantas palavras podemos escrever com as 27 letras do alfabeto? Podemos escrever um número enorme de palavras, com as letras que representam os sons do nosso idioma; outras tantas, com as que representam sons utilizados nos outros idiomas; ou até mesmo combiná-las aleatoriamente, de modo que não tenham sentido nenhum. Mas o que nos interessa é a idéia de agrupar. Cada grupamento de letra tem um sentido e uma função diferentes, quando os grupos forem diferentes.Na natureza ocorre exatamente a mesma coisa. Só que as letras da natureza são os átomos. Com os 116 tipos diferentes de átomos existentes, que se agrupam de diferentes maneiras, são formados os diferentes materiais ou substâncias que conhecemos: vidro, plástico, cera, algodão, madeira, açúcar, cobre...
Fenômenos físicos e fenômenos químicosVoltemos então ao velho problema da Antigüidade: o fogo. Quando queimamos um pedaço de madeira - como dissemos - parte de sua massa é transformada em vapor d'água e em gases diversos, além de fuligem e carvão.Para ocorrer a combustão, é necessária a existência de um combustível (o material a ser queimado - a lenha), um comburente (o material que garante a existência do fogo - o oxigênio) e uma energia que dê início ao processo (a energia inicial - riscar um fósforo, por exemplo).Quando a combustão acontece, essas substâncias sofrem um desarranjo e um novo arranjo de seus átomos, transformando-se quimicamente. E sempre que ocorre um desarranjo e um novo arranjo dos grupamentos atômicos, ocorre também uma transformação dos tipos de energia.Assim, na combustão, a energia química se transforma em calor e luz (ou energia térmica e luminosa).Pois bem, quando ocorre uma transformação ou modificação em um grupamento atômico, esse fenômeno é conhecido como fenômeno químico. Quando a transformação é apenas energética, chamamos isso de fenômeno físico, como na mudança de estado físico da água.Levando tudo isso em consideração, é possível compreender a famosa frase de Antoine Lavoisier, que ficou conhecida como Lei da conservação da massa:"Na natureza nada se cria, nada se perde: tudo se transforma".

Perigos da floresta

"Quanto mais a floresta é desmatada, mais ela afeta o clima. Quanto mais o clima é afetado, mais põe em risco a floresta"
Miriam Leitão escreve para a coluna "Panorama Econômico", do jornal "O Globo":

Quanto a floresta aguenta? Qual é o limite de desmatamento que a Amazônia suporta? Essas perguntas têm sido feitas pelo climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que, junto com seus alunos, tem escrito estudos publicados em revistas científicas do exterior. O último estudo conclui que 40% é o limite. Acima disso a floresta entra em colapso

Quem sobrevoa a Amazônia com olhos leigos, como os meus, tem a impressão de que ela será eterna, que aquele mundo imenso de cobertura verde é indestrutível.

A verdade científica é que ela é mais frágil do que parece. Quem olha o percentual da floresta que já está desmatada - em corte raso - acaba pensando que é pouco. Hoje, estão desmatados 18% da Amazônia e outros 10% a 12% estão em estado de degradação ou fragmentação. Essa é a parte da floresta que começou a ser desmatada, mas não foi completamente limpa em corte raso. Parece pouco, mas na verdade estamos perigosamente perto do que os cientistas definem como tipping point, o ponto a partir do qual tudo se precipita, tudo se acelera, e a floresta começa a morrer.

O tamanho do verde e o percentual da destruição só enganam os leigos, não os cálculos de climatologistas e especialistas. Eles sabem de um fenômeno assustador: que a partir de um determinado ponto, a floresta começa a se savanizar, perde a capacidade de regeneração, fica mais vulnerável ao fogo e às secas, muda de natureza. Deixará de ser a Amazônia como a conhecemos.

- Pelos nossos estudos, o desmatamento não pode chegar a 40%, do contrário, o clima muda permanentemente. E quando mudar o clima, a floresta não volta. Ela perde a capacidade de se regenerar, perde sua resiliência. Na floresta tropical úmida, o solo precisa de água o ano inteiro, o que não acontece numa vegetação savanizada, onde chove apenas uma parte do ano, seguido por longo período de seca - disse Carlos Nobre.

Esse tema tem sido objeto de estudo dele e de seus alunos desde 2003. Alguns desses estudos estão em várias publicações científicas de primeira linha no mundo inteiro. O último estudo, "Tipping Points for the Amazon Forest", escrito por Nobre e Laura De Simmone Borma, também do Inpe, chega a este número de que perto de 40% a floresta está em perigo.

- Temos feito avaliação também de quanto de aumento de temperatura a floresta aguenta antes de se desestabilizar. E concluímos que é três graus centígrados. Com um aumento além desse nível, a floresta também se savaniza. São esses os dois tipping points, como dizemos, os dois pontos de quebra, a partir do qual a floresta não aguenta - explica Nobre.

Quanto mais a floresta é desmatada, mais ela afeta o clima. Quanto mais o clima é afetado, mais põe em risco a floresta. No estudo recente, eles incluíram o efeito do fogo na análise, mostrando que isso aumenta o risco.

A explicação é que na Amazônia o fogo não prospera além de um certo ponto, ao contrário do cerrado, em que o fogo é parte da dinâmica do bioma. Quanto mais seca e mais quente a Amazônia for ficando - como efeito do desmatamento -, mais o fogo tem capacidade de penetração e destruição, alimentando o círculo vicioso que pode levar à destruição completa da floresta.

- É uma ameaça: mais quente e mais seca, ela acelera o processo que poderá levar à savanização - afirma Nobre.

Com todos esses riscos é preferível nem testar o nível de 40%. O mais sensato é conter já o desmatamento.

O corte raso é diferente de área degradada, explica o pesquisador. Na área degradada, há perda de biodiversidade, mas a floresta, dependendo do estágio da destruição, pode ainda se regenerar. Mas somando-se o que há de corte raso e degradação, o estrago já seria de 30%, perigosamente perto do ponto de não retorno.

O cientista recomenda que o país não teste a floresta além desse ponto.

A Amazônia se espalha por nove países, mas - alerta o estudo - 80% do desmatamento ocorrem no Brasil. O desmatamento da Amazônia corresponde a 47,8% da perda mundial de florestas tropicais, numa taxa que é quatro vezes o segundo lugar, que é da Indonésia.

E a destruição no nosso caso está concentrada em áreas muito bem definidas, que formam o arco do desmatamento. Deter o avanço da destruição não apenas é responsabilidade brasileira, como está no horizonte das nossas possibilidades.

Quem vê a Amazônia assim tão gigante e isolada pode pensar que ela não está no centro de um problema que aflige o mundo inteiro. No texto, os cientistas afirmam que "o equilíbrio do clima e vegetação na Amazônia tem sido identificado como um dos tipping points do sistema climático global".

Isso tem que estar na mente dos tomadores de decisão no Brasil antes de pensar pequeno na preparação da posição brasileira para Copenhague, ou na tentativa de ceder à pressão dos ruralistas. Eles querem mais liberdade para desmatar, chances de plantar árvores exóticas em áreas destinadas a reserva legal, querem a possibilidade de compensar desmatamento ilegal com uso de fragmentos em outras áreas.

Tudo pode parecer razoável para quem quer manter um status quo que nos levou a perder 18% da floresta e colocou sob ameaça imediata outros 10%. Um pouco mais de desmatamento pode nos levar a um terreno desconhecido. Portanto, a pergunta relevante deve ser feita aos cientistas: quanto mais a Amazônia aguenta de desmatamento? Eles dirão que está tão perto o tipping point que o mais sensato a fazer é não desafiar mais a sorte.

Madeira do Pará tem origem 89% ilegal

Pesquisa inédita do Imazon empregou imagens de satélite para mapear pela primeira vez extração madeireira no estado. Sistema estadual trazia uma estimativa de só 10% de irregularidade; exploração de madeira paraense é 45% do total da Amazônia
Reinaldo José Lopes escreve para a "Folha de SP":

Quase 90% da área que sofre exploração madeireira no Pará está sendo explorada sem autorização legal, revela um estudo do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) obtido pela Folha. É a primeira vez que se faz uma estimativa direta da retirada de madeira ilegal na Amazônia.

Até hoje ninguém sabia direito qual é a quantidade de madeira clandestina na região. O número mais citado, impreciso, fala em 50%. Mapear a extração ilegal é importante, porque em muitas áreas da Amazônia a atividade madeireira criminosa é o passo inicial da derrubada total da floresta.

Os dados usados pelo Imazon agora, vindos de imagens de satélite de 2007 e 2008, indicam que até a atividade madeireira legalizada tem irregularidades -como o registro de toras supostamente oriundas de áreas já desmatadas por completo- em 37% dos casos. A ONG ainda pretende cruzar o mapeamento com os dados de volume total de madeira em cada região do estado para estimar o volume clandestino.

"Fica claro que o estado não tem controle fiscal suficiente da extração", diz o engenheiro florestal André Monteiro, co-autor do estudo. "Ele não consegue fazer o monitoramento e acaba trabalhando só com base em denúncias. Também há indício de gente registrando dados de forma errada, fazendo a coisa de modo mal intencionado. Achamos que esta é uma ferramenta importante para auxiliar o monitoramento."

Rombos

As imagens de satélite ajudam os pesquisadores a fazer uma estimativa de quão fragmentado está o dossel, ou seja, a fatia mais alta da mata, única parte visível dela a partir do espaço no caso de florestas fechadas como a amazônica.

A proporção de buracos no dossel da mata indica se a derrubada está ocorrendo de acordo com um plano de manejo florestal aprovado pela Sema (Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará). Tais planos de manejo garantem, em tese, que a madeira seja extraída em ritmo moderado, escolhendo exemplares maduros de árvore e minimizando o dano a plantas que não vão ser usadas comercialmente. Não se pode falar em exploração sustentável sem plano de manejo.

Contas que não fecham

A primeira conclusão dos pesquisadores, que acessaram os dados da Sema sobre a extração de madeira devidamente atrelada a esses planos, é que 89% da área em que a derrubada foi detectada via satélite não corresponde aos locais em que a atividade madeireira foi aprovada pelo estado. São quase 375 mil hectares, dos quais 73% equivalem a áreas privadas, devolutas ou sob disputa.

Mesmo nos casos em que a Sema registrou a exploração legalizada, porém, a pesquisa detectou discrepâncias entre o que estava nos planos de manejo e o que aparecia no satélite.

No período 2007-2008, havia 259 planos operacionais no estado, dos quais 131 puderam ser avaliados via satélite (nem sempre isso é possível, por causa de fatores como a forte cobertura de nuvens). Das Autefs (Autorizações de Exploração Florestal) emitidas então, 63% casaram com as imagens, enquanto as demais apresentaram uma ou mais "inconsistências", como define o trabalho.

Entre as práticas mais suspeitas está a emissão de Autefs para áreas já total ou parcialmente desmatadas. O conceito por trás da tática é simples, diz Monteiro: "esquentar" a exploração predatória nessas áreas.

"A questão é que, no plano de manejo, você tem um limite de 30 metros cúbicos de madeira por hectare. Se um trecho já desmatado é incluído no total, a relação entre volume de madeira e área diminui, o que permite a extração de mais madeira", afirma o pesquisador.

Assim, numa fazenda que seja grande mas só tenha um hectare de floresta em pé, se o proprietário declara ter dois hectares, pode tirar o dobro de madeira que lhe é permitido sem deixar pistas em documentos. Só com imagens de satélite é possível flagrar o golpe.

O Imazon pretende realizar o levantamento todos os anos daqui para a frente, incluindo também Mato Grosso.

Sema diz que não fez pressão por mudança

A coordenadora jurídica da Sema, Estela Neves de Souza, afirmou à Folha que não houve pressão do governo do Pará para que o Imazon modificasse seu relatório sobre o desmatamento ilegal no estado.

Para Souza, os pesquisadores foram apenas prudentes ao alterar o texto do estudo. "É um tema muito complicado, que nós tentamos esclarecer da melhor maneira possível. A alteração na verdade mostra até cautela por parte do Imazon, e aumenta a credibilidade do estudo deles", afirma.

Souza afirma que os dados de exploração madeireira de 2007 presentes no Sisflora, o sistema que acompanha o volume de madeira extraído no estado, tinham vindo originalmente do sistema de autorizações em papel do Ibama, que ainda vigorava.

Ela preferiu não se pronunciar sobre os demais resultados. "A Sema ainda está aguardando a apresentação da versão final", disse. A Folha procurou o secretário de Meio Ambiente do Pará, Aníbal Picanço, mas ele não estava disponível para falar.

Trabalho original foi alterado após governo criticar dados

A versão da pesquisa do Imazon obtida pela Folha não é a original. A pesquisa foi revisada ao longo das últimas semanas, após conversas entre os pesquisadores da ONG e o governo paraense.

Depois do debate com representantes da Sema, não houve alterações nas principais conclusões do relatório sobre as áreas desmatadas sem autorização, mas um parágrafo sobre as estimativas do próprio governo do Pará acerca do problema foi removido.

O trecho retirado dizia que, de acordo com o Sisflora, sistema estadual que mede a produção de madeira em metros cúbicos, "Noventa por cento dessa produção originou-se de fonte legal (manejo florestal) e 10% de fonte desconhecida (exploração não autorizada)". O número inverte as proporções aproximadas nas conclusões do Imazon (89% de extração ilegal e 11% autorizada).

Durante a conversa com a Sema, os técnicos do governo paraense argumentaram que a discrepância se devia à falta de integração informatizada entre dois de seus próprios sistemas de controle florestal. O Sisflora, que registra o fluxo de madeira propriamente dito, não era ligado ao Simlam, que emite licenças de plano de manejo.

Além disso, durante parte do período analisado, o sistema utilizado para acompanhar a movimentação de madeira ainda era o do Ibama, feito em papel e passado manualmente para o formato eletrônico, o que facilitava irregularidades, disseram os membros da Sema. "Com base nessa argumentação deles, nós decidimos alterar aquela passagem do relatório", afirma Monteiro.

Com a integração entre Sisflora e Simlam já operacional, a expectativa é que problemas metodológicos diminuam, avalia o engenheiro florestal.

Lobo extinto achado por Darwin é primo do guará, diz pesquisa

Análise genética revelou que o animal brasileiro é parente vivo mais próximo
Reinaldo José Lopes escreve para a "Folha de SP":

O bicho de pelagem dourada habitava as frias ilhas Malvinas (ou Falklands, como preferem os britânicos), na costa argentina, mas seu parente mais próximo ainda vivo é o lobo-guará, morador cada vez mais raro do cerrado brasileiro. A conclusão vem de uma análise de DNA e reduz um pouco o mistério em torno do lobo-das-malvinas, animal que intrigou Charles Darwin e foi extinto pela caça indiscriminada em 1876.

A pesquisa, coordenada por Graham Slater, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, está na revista científica "Current Biology". Slater e companhia conseguiram obter DNA de cinco exemplares de museu do Dusicyon australis, como o bicho é conhecido oficialmente pelos cientistas.

Com isso, foi possível comparar alguns genes do lobo-das-malvinas com os de canídeos modernos, em especial os nativos da América do Sul, como o lobo-guará e o cachorro-do-mato-vinagre. Ficou claro o parentesco mais próximo com o guará, mas o detalhe é que as linhagens dos dois bichos sofreram uma separação antiga, há mais de 6 milhões de anos.

De norte a sul

Isso é o mais surpreendente, porque a data indica que a evolução das duas espécies já estava ocorrendo separadamente quando canídeos como eles nem sonhavam em chegar à América do Sul. Nessa época, as terras sul-americanas eram uma ilha, separada da América do Norte. O continente atual só se formou há 3 milhões de anos.

Os ancestrais do lobo-guará e do lobo-das-malvinas acabaram sumindo totalmente da América do Norte, hoje dominada pelos coiotes e pelo lobo "verdadeiro", ambos do gênero Canis. "Não sabemos o porquê disso", disse Slater à Folha.

"Os Canis chegam [da Ásia] e os outros simplesmente desaparecem. Talvez a socialidade seja importante, porque a maioria dos canídeos sul-americanos de hoje é solitária, enquanto os lobos e coiotes vivem em grupos, e os carnívoros sociais conseguem desalojar os solitários e capturar um espectro mais amplo de presas."

Darwin foi o primeiro especialista a descrever formalmente o lobo-das-malvinas e ficou com a pulga atrás da orelha ao notar que o bicho era o único mamífero nativo das ilhas, as quais, afinal, ficam a quase 500 km do continente. Ninguém sabe como os lobos foram parar lá. Pode ser que tenham sido arrastados em cima de troncos de árvore ou pedaços de gelo mar adentro.

"Nas Malvinas eles tinham carne à vontade, comendo focas, pinguins e aves marinhas", diz Slater. É possível que outras espécies mais próximas do lobo-das-malvinas tenham sido extintas por seres humanos no continente, especula ele.

O mesmo destino aguardava a espécie insular. Pastores que colonizaram as Malvinas a consideravam uma ameaça para suas ovelhas e cobiçavam sua pele, o que acabou levando ao extermínio do animal.

Animal pode ter mais primos extintos

O próximo passo do grupo de Slater envolve fósseis do Dusicyon avus, espécie que sumiu há uns 8.000 anos. Ele pode ser um parente ainda mais próximo do lobo-das-malvinas. "Como é um animal recente, deve ser relativamente fácil obter DNA para comparação", diz Slater.