quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Santos-Dumont aterrissa na telona

Na esteira das comemorações pelos cem anos do primeiro vôo do 14-Bis, a vida de Alberto Santos-Dumont, inventor dessa e de outras máquinas voadoras, chega aos cinemas. Está em cartaz em algumas capitais brasileiras o documentário O homem pode voar, do matemático e jornalista Nelson Hoineff, com roteiro do físico Henrique Lins de Barros. O filme reúne imagens de arquivo inéditas, que mostram o processo de invenção do brasileiro, além das clássicas cenas do 14-Bis no ar. O documentário aborda muito mais que a vida do inventor de dirigíveis e aviões. É o retrato de um homem que desafiou a lei da gravidade em uma época que voar representava a superação do impossível. O homem pode voar está em cartaz há uma semana no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Curitiba, e estreou nos cinemas de Belo Horizonte nesta sexta-feira. Na semana que vem, na quinta-feira, 7 de setembro, chega a vez de Brasília. O acervo de imagens é vasto: o filme possui cerca de 18 minutos de vídeos inéditos, mais de mil fotografias e vários documentos. Algumas cenas foram gravadas recentemente em Paris, França. Muitas pessoas foram entrevistadas, mas a obra tem apenas cinco depoimentos. “Como tínhamos muitas imagens boas, optamos por não nos basear tanto em depoimentos. Também filmamos mais de três horas em Paris e não utilizamos nem cinco minutos”, explica Hoineff. “O homem pode voar é bastante rigoroso do ponto de vista científico, na medida em que não utilizamos nenhum elemento de ficção. Mesmo assim, ele ficou bastante popular. Nas sessões em que estive presente, percebi que o filme gera uma grande empatia no público.” Um inventor exuberante
O filme não explora a vida pessoal do inventor, mas descreve em detalhes o contexto da época e mostra como Santos-Dumont influenciou a realidade desse período histórico. “Optamos por privilegiar o trabalho dele. Essa é a característica de um roteiro feito por um físico, pois olhamos a realidade da forma mais objetiva possível”, justifica Henrique Lins de Barros. Ele já escreveu dois livros sobre o inventor e argumenta que não há muitos documentos – como cartas, jornais, vídeos e fotos – que abordam o lado pessoal do pai da aviação. “Ele era um inventor exuberante, mas também uma pessoa muito discreta no cotidiano. Não existe uma fonte segura sobre isso.” A narrativa do filme não é linear: vai e volta no tempo diversas vezes, sem que isso confunda o espectador. “O pensamento de Dumont era descontínuo. Ele era um visionário, em 1902 já dizia que os veículos de vôo seriam extremamente importantes no futuro. Queríamos ressaltar essa característica”, diz Lins de Barros. “Fizemos a experiência de colocar as cenas em ordem cronológica, mas o clímax do filme – o vôo do 14-Bis – aconteceria no vigésimo minuto.” A polêmica sobre quem inventou o avião não é muito explorada, mas o filme traz imagens das comemorações de 100 anos do vôo do avião dos irmãos norte-americanos Orville e Wilbur Wright em 2003. Foi construída uma réplica do Flyer I especialmente para o evento, mas os organizadores não conseguiram fazê-la voar, o que aumentou ainda mais as dúvidas em torno da questão. “Não exploramos esse assunto porque para nós não há polêmica”, afirma Lins de Barros. “Santos-Dumont construiu e apresentou para o público o primeiro avião que decolava sozinho. Enquanto o Flyer I não funcionou nos Estados Unidos, o 14-Bis está voando normalmente”, alfineta. Ele ressalta que os brasileiros precisam ter consciência da importância de Alberto Santos-Dumont e se orgulhar disso. “Esse personagem não é famoso apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Acredito que o filme deixou isso bem claro.”

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